
É poder abusar de toda a introspecção privada por anos de juventude, devido aos grandes ruídos, grandes sentimenos e emoções que ela propicia. A juventude é sempre tão barulhenta...Ser idoso é permitir-se controlar o volume do que se ouve através do olhar: ir fechando devagarmente os olhos e quanto menos coisas a vista alcançar, mais coisas a se ouvir. Abrir gradativa e novamente os olhos,deixando que os sentimentos transformem-se em um misto de tudo que se vê e ouve.
O ser humano se apega tanto à juventude por sua a incapacidade de lidar com o próprio perdão. Na juventude é possível errar, existe o tempo a consertar. Na velhice o tempo deixa de ser o remediador de todas as medidas e o que resta? Apenas a capacidade de se auto-compreender, de distanciar-se o suficiente para enxergar o que foi vivido em um todo. Quando estamos próximos demais de algo, esse, passa a sair de foco. É como um objeto fotografado bem de perto: não consegue ser discernido ou identificado.
Perceber que a vida não é um dispositivo de constante criação, e sim, de constante reciclagem. A vida consegue sintetizar tamanha diversidade de aprendizado aproveitando-se apenas de uma única emoção ou experiência. A velhice é o auge dessa contínua reciclagem. É extrair o máximo do mínimo.
É aprender a conviver com a solidão do mundo que a cada dia se cala. É aprender a conviver com a solidão dos próprios órgãos, da própria sanidade. É remeter-se à uma coragem infantil, aquela que não nos permite pensar.
Olhar para trás e saber diferenciar a ação que o tempo exerce sobre as pessoas: se nelas ele despertou a mudança ou a revelação.
“Ah filha, eu gostava do seu avô, mas não cheguei a amá-lo. Casei-me com ele porque era alguém muito carente, meu pai não me dava carinho e eu não via a hora de recebê-lo. Eu pensei que ao longo do tempo o amor pelo seu avô surgiria, mas ele conseguiu ser mais frio que meu pai. Eu até poderia tê-lo amado, mas o amor é como uma florzinha, precisa ser regado".
"Ouvir é entrar por aqui (ouvido), deixar chegar até aqui (cabeça) e descer até aqui (coração)”.
"Eu detesto este mundo cibernético”.
"Não deixe que terceiros acabem com a sua harmonia".
"Só é possível conhecer a Deus através do amor".
"Não deixe que a máquina substitua o ser humano".
" O que importa não é o corpo...É o que o corpo exala. É carinho, é amor".
"Sabe filha, tem uma hora que nós vamos ficando velhos e precisamos rever nossos conceitos".
(Frases retiradas de diálogos com idosos). Nota: A fotografia foi tirada (ilegalmente) em uma de minhas visitas no asilo Cidade Vicentina.
Incrível. Sem palavras.
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