domingo, 15 de agosto de 2010

21ª Bienal Internacional do Livro


Esse post é apenas uma descrição do meu dia de ontem com uma bela dica para quem curte um evento cultural e não só de porte literário.
Bom, ontem estava de pé desde as sete da manhã, estive na escola esse horário para a não esperada recuperação de física (que por sinal não faz jus ao nome, já que a única coisa que recuperei foi o cansaço semanal). Após isso, reuni-me com Pâmela, Paçoca e Juliana em frente ao colégio para embarcamos numa trip: a 21ª Bienal Internacional do Livro, ocorrida pela primeira vez no Brasil (mais precisamente em São Paulo) na década de 70, baseada nos costumes europeus em promover feiras de livros.
Tomamos um cafézinho no Mac Donalds e partimos rumo à estação de trem, lá fiz algumas fotografias (adoro o ambiente de estação). Dentro do trem ficamos conversando, trocando ideias. Chamei a atenção de Pâmela para um senhor que estava sentado bem a nossa frente, de pele dourada, olhos fundos, demasiadamente redondos e pretos.:
- Olha lá aquele senhor sentado na janela, Pâmela. Repare na penumbra de sol que está nos olhos dele, daria uma bela fotografia.
- Engraçado isso, né? Você conseguiu analisar esse lado da visão fotográfica, eu estava reparando no lado psicológico. Olhe os olhos dele...Se movimentam como os de uma criança curiosa.
Juliana também fez uma observação que me fez pensar:
- Eu sinto tanto sono no trem...Parece que estou sendo ninada com o balanço dos trilhos.
Olhei as pessoas em volta, olhei o senhor, um rapaz dormindo atrás de mim com um fone nos ouvidos e outro apenas pensando, adoraria ter sabido o quê. Sim, estavam todos sendo ninados. O trem e o sono são duas pausas que as pessoas dão (quer queiram ou não) para se desligarem das emoções proporcionadas pela realidade. Em ambos podemos sonhar, estabelecer um diálogo próprio e assim como quando despertamos do sono para voltarmos a viver nossas realidades, nos despertamos de nossos pensamentos para desembarcamos do trem em uma outra parada, a estação (onde também damos uma continuidade em nossas realidades).
Chegamos em São Paulo, pegamos um ônibus e fomos para a feira que estava demais. Não só por tratar-se de leitura, mas por conseguir agregar de forma tão harmniosa a questão da mesma com o intercambismo cultural: palestras e palestras dos mais variados gêneros, entre elas sobre os escritores Clarice Lispector e Monteiro Lobato, debates jornalísticos orientando sobre a profissão repórter e uma mostra sobre a cultura indígena.
Foi incrível ver a reação das pessoas dentro de cada editora, cada uma com sua particularidade e fascínio próprio, me senti em pura sintonia com elas.
Não conseguimos visitar toda a feira (fica a dica pra quem adora demorar e procurar minunciosamente seu livro), porém, adquiri dois que me valeram muito a pena: "Psiquiatria, Loucura e Arte" da editora Edusp, aborda o tema usando fragmentos da história brasileira para tal análise e "Cine Filô" de Ollivier Pourriol que aborda diversas questões filosóficas que podemos encontrar nos filmes, como Forrest Gump e Vidas em Jogo.
Saímos de São Paulo e o céu estava quase que escuro. Enquanto esperávamos o ônibus, as meninas resolveram tomar outro café e eu decidi escrever sobre o dia de ontem. Comecei e mal-terminei, o ônibus chegou e minha escrita fora interrompida. Dormi a viagem toda ouvindo a música que só eu conseguia ouvir, ela estava na minha cabeça. Peguei no sono e quando acordei já estava em Jundiaí. O cansaço valeu a pena, valeu pela companhia, pela viagem e pelo destino. Ler, viver: com toda certeza é uma viagem.

Nota: A fotografia foi tirada na estação Tietê, são tantas as cores, são tantas as pessoas. Trilha sonora para o texto - "Broken Horse", Freelance Whales.

sábado, 7 de agosto de 2010

O Céu dos Quedistas


Sonhei que estava no topo do mundo e que dele despencava sem cordas de segurança ou qualquer outro dispositivo que me protegesse do que estaria por encontrar ao final. Na verdade havia cordas, mas escolhi não usá-las. Enquanto caía de braços abertos, me perguntava: "aonde vou parar no fim de tudo isso? E por que sem cordas?", o medo invadia meu corpo e se misturava com toda adrenalina que o declínio proporcionara. Não sabia exatamente o por que de ter me permitido despencar, só sabia, inexplicavelmente, que deveria fazê-lo.
Apesar do medo, a queda me fez sentir o vento que vinha de baixo e me descabelava por inteira, que tapava meu nariz e me obrigava a expirar de uma nova maneira. Nenhuma outra queda havia sido assim tão prazerosa. Foi fascinante não saber pelo que esperar, o que estava por encontrar não era visível ou previsível.
Quer saber o que havia abaixo da queda? Uma espécie de cama elástica que me impulsionava para cima como um foguete, foi irônico como a mesma me proporcionara as mesmas sensações anteriores, porém de forma inversa: me fez sentir o vento que vinha de cima e assentava meus cabelos, que dava prepulsão ao meu nariz e me fazia inspirar com todo o corpo. Então eu alcancei o céu nadei por ele todo, deixando que a brisa me fizesse flutuar por entre o azul e entrar em contato com outras pessoas, "quedistas" como eu. Chamei de “o céu dos quedistas”.


Nota: Esse sonho foi real e significou para mim uma grande metáfora. A partir de hoje sonho com a grande queda. Após acordar, percebi que se tivesse usado cordas, estaria abusando de uma presunção equivocada: a de que em toda queda há uma aterrissagem dolorosa e que esse mecanismo (as cordas), que de início viria para proteger, acabaria me impossibilitando da grande subida.
Ao contrário do que se pensa, nem toda queda é letal. É necessário entender que o “céu” só é alcançado por aqueles que se permitem “cair” sem medo.
Trilha sonora para o texto: "Generator First Floor" - Freelance Whales