terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Helena

A espera parecia nunca acabar. Mesmo sendo veterana no ramo que trabalhava, a prostituta sentia a cada transa o nervosismo da primeira vez, esse, escondido no meio de tantos gemidos, bolo de cabelo misturado com saliva e barulhos da penetração.
Cinco da manhã, seria o último cliente da noite. Homem gordo, barbado, fedendo catinga e cigarro. A prostituta tratou de vestir a máscara da sagacidade, contraiu os ossos e os lábios. Estava pronta para mais uma.
Em quinze minutos o gordo já havia gozado. Deu graças à Deus por isso. Ganhou de gorjeta alguns trocados, além de virilhas assadas e mais rígidas. Não via a hora de sair daquele quarto, ir para casa tomar um banho e dormir.
Após mais duas transas de quinze minutos com o porco fedorento, partiu em direção à sua casa. Com seus passos largos e leves, caminhou pelas ruas contemplando a beleza dos bares noturnos pela manhã: viu um homem saindo para fora de um deles, estava com a camisa social para fora da calça. A prostituta colocou a mão em forma de concha sobre a testa para proteger seu rosto do sol e observar melhor aquela cena. Viu também uma mulher de cabelos encaracolados entrar pelo mesmo bar com um balde de água com detergente e um pano pendurado nos ombros.
Um pouco antes de cruzar a rua do seu apartamento, parou na padaria mais próxima. Pediu três pães dourados. No caixa, incomodou-se com uma mulher que olhava para suas pernas compridas quase nuas. Sentiu raiva. Com o troco dos pães, comprou um pirulito de maçã verde, deu-lhe uma chupada profunda, lançou um olhar provocante para a mulher que a observara e se colocou para fora da padaria, sentindo o gosto doce e ácido do pirulito. Mal cruzou a esquina e o jogou no lixo, enquanto limpava a saliva que escorria pelo canto de seus lábios.
Fez mais uma parada. Desta vez em uma banca de jornal. Prometeu a si mesma que não compraria mais nem um maço de cigarros, mas enganou e convenceu-se que o dia estava propício para algumas tragadas. Ao sair da banca, parou novamente para observar outra cena: viu uma mulher caminhar de mãos dadas com o filho pequeno, cochichando e apontando o dedo para um urso de pelúcia colocado bem na porta de uma loja de brinquedos.
Chegou na portaria do seu condomínio, deu um bom dia encantador ao porteiro. Subiu as escadas com certa dificuldade, mal avistara sua porta e já imaginava-se dentro do apartamento, ligando o chuveiro para que a água esquentasse enquanto se despia rapidamente. Assim chegou e assim o fez.
Já na banheira, decidiu não molhar os cabelos. Apesar de eles estarem um pouco oleosos, apenas os prendeu para trás, deixando que parte da franja incomodasse o piscar do olho esquerdo. Olhou para suas mãos ficando enrugadas, as passeou pelas duas coxas, indo de encontro com a vagina (que também estava um pouco enrugada). Tentou dar o mínimo de prazer que ainda restava para si, não conseguiu. Sua vagina estava contraída e dolorida demais para isso. Sentiu-se frustrada, desistiu da masturbação, desistiu do banho.
Saiu da banheira, nem enxugou-se. Molhou o chão do trajeto até a cama, jogou-se no travesseiro, dormiu até o anoitecer.

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